Magis…
…mais mar adentro e mais fundo…
…um desafio pessoa a pessoa, não comparativo, não competitivo…
…uma presença que se faz sentir, através do serviço apostólico…
Nos últimos Exercícios Espirituais, o Magis tocou-me pelo lado de Jesus que me acena e me diz “vai eu te envio aos acontecimentos, situações, pessoas que são mais frágeis, pobres, necessitados de tudo”. Não tendo sido surda a este envio, sem saber ainda onde iria viver esta experiência, dou comigo levada pelas circunstâncias do mercado de trabalho actual a escolher os mais excluídos do ensino, oferendo-me para trabalhar numa comunidade educativa de alunos considerados pessoas em risco.
…mais mar adentro e mais fundo…
vencendo repugnâncias, medos, resistências, preconceitos.
Como professora que esteve a substituir uma colega por baixa de doença, vivi intensamente os primeiros dois meses do primeiro contrato, aprendendo o jeito de viver o presente sem passado nem futuro. Em cada dia, fiz a experiência da entrega de tudo como se fosse o único tempo que me é dado viver, sem pretender apropriar-me de nada, permanecendo na fratura sem rutura, assegurando a continuidade da transição
… um desafio pessoa a pessoa, não comparativo, não competitivo…
Passado este tempo, o desafio a mais nasce desta mesma comunidade que me aponta como campo de trabalho, os alunos que já não reúnem condições para continuar o seu processo de aprendizagem nestes moldes e a quem lhes é dada um outro tipo de oportunidade, durante aproximadamente dois anos e meio
…uma presença que se faz sentir, através do serviço apostólico…
O itinerário de formação técnica, do Curso de Técnico Comercial com estes alunos fez-me percorrer cento e setenta e cinco horas de conceitos e fundamentos de marketing, planos de marketing, políticas de gestão de stocks, aprovisionamento e armazenamento de mercadorias. Assim nos encontramos ou re-encontramos, no espaço de formação, inserido no bairro das suas residências. Uma sala com mobiliário novo, pequena para a turma de vinte e cinco alunos, dos quais cinco eram do género feminino.
À sala de aula chegava-se por vezes, com uma vida marcada pela hostilidade, a violência, a revolta, a fraude, o peso do crime, o consumo de substâncias tóxicas.
Como passar conhecimentos, o que ficará na memória como experiência, uma e outra vez eram interrogações, dúvidas que me ocupavam neste “subir ao monte”.
A exigência de estar num registo de acolhimento, abertura, flexibilidade e propor estratégias sobre estratégias, para conquistar as aprendizagens, foi uma luta constante, nas últimas cinquenta horas esta luta chegou a ser travada hora a hora.
A meio do ano, devido à falta de regras e normas de comportamento social, fomos expulsos do espaço de formação e passamos a frequentar o curso numa escola profissional de educação e desenvolvimento, não já no bairro.
A sala de aula que nos foi destinada estava o mais possível distanciada da receção e a um canto recatado. Senti-me, com eles, rejeitada, na margem, na periferia da periferia.
Aqui compreendi o que significa o facto de se afirmar
que o Magis tem muito de menos.
Pelo caminho uma aluna foi para uma instituição de mães solteiras com o seu bebé, outro aluno foi preso, cerca de catorze expulsos pela equipa de formadores em virtude da falta de assiduidade e aproveitamento.
A aprendizagem para os dez que conseguiram permanecer exigiu como estratégia o recurso a estímulos e recompensas, tantas vezes passiveis de auto critica e insatisfação.
O Magis desta experiência tem por tesouro
a graça de permanecer na fidelidade criativa ao amor
que ama sem cansar,
que se cansa e cansado continua a amar.
Jesus preciso que me digas de novo qual é o Magis da minha vida.
AMDG,
uma FCM portuguesa