Adelaide de Cicé
Maria Adelaide Champion de Cicé nasce a 5 de Novembro de 1749, em Rennes, Bretanha, no seio de uma família nobre.
Desde cedo, Adelaide revela uma íntima união ao Senhor e uma sensibilidade invulgar para com os mais pobres. De carácter delicado e generoso, era comum vê-la sair ao seu encontro, nas ruas de Rennes, para os assistir nas suas privações, dizendo com frequência Amemos a Jesus Cristo e os pobres.
O desejo de consagrar-se ao Senhor, servindo-O em pleno mundo através dos mais vulneráveis, define a sua vocação religiosa, que será confirmada no retiro de 1783, em cujas notas escreve: Tomo a resolução de cortar todas as despesas inúteis para mim e limitar-me ao simples necessário na situação em que vivo. Considerarei tudo o que possuo como pertencendo aos pobres muito mais do que a mim. Na medida em que puder não lhes recusarei nada. Para chegar a ser de Jesus Cristo, desejo nada possuir neste mundo a não ser para aliviar os seus membros sofredores.
Inicia, então, um longo processo para responder ao apelo que sente. Procura o seu lugar junto dos institutos religiosos existentes, chegando mesmo a entrar no postulantado do mosteiro da Visitação, em Rennes. Contudo, a forte oposição do seu irmão, Bispo de Auxerre, obriga-a a desistir para ocupar-se da sua mãe, já em idade avançada, a cuja autoridade docilmente se submete até à sua morte, sem, contudo, renunciar ao desejo de seguir o Senhor.
Corria o ano de 1787, quando Adelaide de Cicé, com uma saúde frágil, se dirige a Dinan para fazer tratamentos termais recomendados pelo médico. Aí, por desígnios de Deus, encontra o padre jesuíta, Pedro de Clorivière, capelão do convento das Ursulinas, onde estava hospedada, a quem confia o género de vida à qual se sente chamada e partilha o Projeto de uma Sociedade Piedosa, que redigira em 1785, verdadeiro desafio, naquela época, para as formas tradicionais de vida religiosa.
Expõe no seu Projeto o desejo de, em comunidade, viver uma vida religiosa, sem hábito nem clausura, permanecendo no mundo para servir os pobres, abrangendo todas as obras apostólicas, em total consagração ao Senhor, pelo voto simples de castidade, pobreza e obediência. E escreve – o voto simples de pobreza não impedirá que cada uma guarde o seu património. O de obediência, porém, só lhe permitirá utilizá-lo com licença da superiora. (…) Por este meio, os bens serão postos em comum como os dos primeiros fiéis, para servirem às diversas necessidades dos irmãos indigentes.
Pedro de Clorivière, que vê em Adelaide uma alma humilde e generosa, entregue ao Senhor, e disposta a tudo pelo Reino de Deus, passou então a ser seu orientador espiritual.
Em 1791, no auge da Revolução Francesa, com a interdição dos votos religiosos, pelos revolucionários, e depois de um longo caminho de busca e discernimento, concretiza-se a forma de vida que o Senhor inspirara a Adelaide, nascendo a Sociedade das Filhas do Coração de Maria, da qual será a primeira Superiora Geral.
A 11 de Novembro desse ano, Adelaide chega a Paris, onde se instala a pedido do Padre de Clorivière, que entendia ser aí que a Sociedade devia começar uma vez que, referia, é daí que vem o mal, é daí que deve vir o remédio.
Em pleno Terror, a Sociedade das Filhas do Coração de Maria desenvolve-se na sombra, inicialmente em Paris e na Bretanha, estendendo-se, mais tarde, a toda a França. Adelaide e as suas primeiras companheiras vão ao encontro dos mais frágeis, dos mais pobres, dos que mais necessitam de apoio material e espiritual, sem medir esforços, arriscando mesmo as suas vidas, tudo fazendo em nome do Senhor.
No início do ano de 1801, Adelaide chega mesmo a ser presa, sujeitando-se a um duro processo judicial, com possível pena de morte, por, numa das suas obras de caridade, ter dado, sem saber, acolhimento ao mentor do atentado contra Napoleão em 1800 que, disfarçado, se apresentava como um simples emigrante em necessidade. Foi ilibada, valendo para tanto os inúmeros testemunhos dos pobres de quem ela foi cuidando, ao longo do tempo.
Apesar da sua saúde frágil, Adelaide continua o seu trabalho, através de uma vida simples e discreta, de entrega a Jesus e a Maria, conciliando uma vida de oração autêntica com uma disponibilidade efetiva ao serviço do próximo, tendo assegurado a continuidade da Sociedade das Filhas do Coração de Maria, de modo particular, durante a prisão do Padre de Clorivière, entre 1804 e 1809.
Adelaide de Cicé morre, na madrugada de 26 de abril de 1818, diante do Santíssimo Sacramento.