Pedro de Clorivière

 

 

Pedro de Clorivière

Na Bretanha, em Saint-Malo, cidade de corsários, nasce a 29 de junho de 1735, Pedro-José Picot de Clorivière, numa família de armadores, rica e influente.

A sua formação literária inicia-se no colégio dos Beneditinos Ingleses de Douai, onde recebe uma sólida educação, tendo mais tarde seguido para Paris para estudar Direito.

Aos 21 anos descobre a sua vocação – ser sacerdote jesuíta. Entra no Noviciado da Companhia de Jesus, em Paris, passando por várias provações, a maior delas a que dizia respeito à gaguez que podia ter sido um sério obstáculo à sua ordenação sacerdotal. Pronuncia os seus primeiros votos em 15 de Agosto de 1758.

Contudo, na iminência da supressão da Companhia de Jesus em França, Pedro de Clorivière, fiel à sua vocação, parte para o exílio, sendo ordenado sacerdote em Colónia, no dia 2 de Outubro de 1763. Daí em diante, colabora na formação dos noviços em Gand e torna-se mais tarde capelão das Beneditinas Inglesas de Bruxelas.

Os seus últimos votos são pronunciados em Liège, a 15 de Agosto de 1772, quase um ano antes do Papa Clemente XIV suprimir a Companhia de Jesus no mundo, exceto na Rússia.

Em 1776, Pedro de Clorivière regressa a França, apenas como padre secular, dando retiros em Paris, conferências e pregações em várias comunidades religiosas.

Chamado, pelo Bispo de Saint-Malo, à sua diocese de origem, em 1779, é-lhe confiada a Paróquia de Paramé, e, alguns anos depois, o pequeno seminário do Colégio de Dinan. Nesta cidade torna-se ainda capelão das Ursulinas, onde encontra Adelaide de Cicé, em 1787. Esta confia-lhe o seu Projeto de uma Sociedade Piedosa com as características de uma consagração religiosa a ser vivida em moldes diferentes dos existentes e que considera ser obra do Espírito Santo. Sob orientação do Padre de Clorivière, Adelaide vai iniciar uma nova etapa de discernimento vocacional, segundo a espiritualidade inaciana.

O ano de 1789 marca o início da Revolução Francesa. Embora sendo, a princípio, uma revolução social e política, depressa se estendeu à religião. Quando, em 1790, os revolucionários declaram os votos religiosos como contrários aos Direitos do Homem e do Cidadão, o Padre Clorivière defende publicamente a relevância da vida religiosa para a Igreja, acentuando a importância da separação dos poderes do Estado e da Igreja. Desde então, foi obrigado a limitar as suas intervenções públicas. A sua rejeição à intromissão do Estado no domínio da Igreja, com a promulgação da Constituição Civil do Clero, faz com que peça a demissão do cargo de superior do seminário de Dinan e reequacione a hipótese de partir para as missões no Maryland, desejo antigo cuja autorização obtém do Bispo da sua diocese.

É neste contexto que, em 19 de julho de 1790, enquanto preparava a homília sobre S. Vicente de Paulo, Pedro de Clorivière tem uma súbita “inspiração” e, como num abrir e fechar de olhos, apresenta-se-lhe, de forma muita clara, a possibilidade de viver o essencial da radicalidade evangélica, ao jeito dos primeiros cristãos, vivendo uma vida religiosa discreta e autêntica. E por que não em França? E por que não em todo o Universo?

Surgem, assim, duas Sociedades, fundadas a 2 de fevereiro de 1791, a Sociedade do Coração de Jesus, para homens, e a Sociedade das Filhas do Coração de Maria, para mulheres, com o objetivo de manter na Igreja um corpo de pessoas consagradas a Cristo para serem testemunhas da Boa Nova tão fortemente combatida pelos revolucionários.

Percebendo a gravidade da situação para a Igreja de França, renuncia a ir para o Maryland e recusando-se a prestar juramento constitucional, o Padre de Clorivière, em colaboração com Adelaide de Cicé, sustentam uma Igreja clandestina, fiel ao Papa e à Igreja universal.

Em 1804, o Padre de Clorivière é preso, na sequência ainda do atentado, em 1800, a Napoleão Bonaparte, orquestrado por um dos seus sobrinhos, e passará 5 anos na prisão do Templo sem, contudo, ter sido julgado. Durante este tempo, acompanha, em estreita colaboração com Adelaide de Cicé, pelos meios possíveis, o desenvolvimento das duas Sociedades, escrevendo cartas, Cartas Circulares e textos espirituais, entre outros, o Comentário ao Apocalipse.

Ao longo de quase trinta anos, o P. de Clorivière toma todas as diligências necessárias para, junto da hierarquia da Igreja, obter o reconhecimento das duas Sociedades, conseguindo a sua aprovação verbal, em 19 de janeiro de 1801, pelo Papa Pio VII, e a publicação das primeiras Constituições da Sociedade das Filhas do Coração de Maria em 1818.

Em 1814, contando já 79 anos, é chamado pelo Superior Geral dos Jesuítas, que vivia na Rússia, para restaurar a Companhia de Jesus em França.

A 9 de Janeiro de 1820, de madrugada, morre o Padre de Clorivière, diante do Santíssimo Sacramento, na capela dos jesuítas, na rua des Postes, em Paris.